sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O que temos a comemorar no dia do professor? ...

Arnaldo Nogaro[1]


Mais um dia do professor se aproxima, mais um feriado, alunos felizes por não terem aula, pais aproveitando o feriadão para viajar e, nós professores, com o que nos regozijamos? Com a possibilidade de um descanso prolongado para recompormos nossas energias físicas e mentais? Com o discurso do Ministro da Educação, em cadeia nacional, no horário nobre, parabenizando os professores brasileiros? Com a lembrança ou os cumprimentos de alguns de nossos alunos? Com o abraço afetuoso de nossos filhos que reconhecem a dignidade de nosso esforço e persistência na profissão que escolhemos?
Mais que um dia para comemorações, o dia do professor, remete-nos a reflexões profundas sobre a realidade da educação brasileira, as condições de nosso trabalho e os resultados que temos obtido com o mesmo. Cotidianamente ouvimos professores constatando que seu trabalho já não é mais o mesmo, que a organização em que estão inseridos perdeu a credibilidade, que os pais já não confiam na proporção que confiavam outrora e assim estende-se a lista de lamentações e desabafos.
Por que o trabalho e a profissão de professor teria se transformado tanto? Ou não se transformou? Estariam enganados os que assim pensam e nossos mestres teriam ficado mais sensíveis e menos convictos? O que efetivamente aconteceu com a mais nobre das profissões, no entendimento de Wanderley Codo (estudioso do trabalho docente)? Como as transformações sociais, familiares e no universo do conhecimento afetaram a convicção de nossos professores? Ou estaria eu configurando um quadro de ficção que em nada retrata a realidade vivida pelo magistério brasileiro?
Paulo Freire usava uma expressão muito adequada para falar do professor quando dizia que ele poderia estar abatido, porém jamais destroçado e desesperançado. Em que pesem muitas circunstâncias desfavoráveis em relação à nossa profissão, não somos os únicos que precisamos enfrentar as grandes transformações que a sociedade como um todo vive. Diante disso o que nos deixa mais preocupados (quem sabe angustiados) talvez seja a consciência e o sentimento de responsabilidade que trazemos em nosso âmago, ao acordarmos a cada manhã e sabermos que temos, em nossas mãos, a possibilidade de revertermos expectativas e de alimentarmos a esperança em nossas crianças e jovens como nenhuma outra profissão possui. Sabemos que cada um deles que acompanhamos e contagiamos, com nossa inspiração e nossos sonhos, será um arauto da paz e de uma sociedade de maior equidade e isto pesa no nosso fazer cotidiano.
No dia do professor, em relação ao ano anterior, quem sabe não tenhamos, do ponto de vista financeiro e das condições de trabalho, muitos avanços a comemorar, mas para quem pode estar abatido, porém não desesperançado, há muitas conquistas que precisam ser saudadas. Precisamos reconhecer que o trabalho do professor se faz presente em cada aluno que se alfabetiza, que aprende um novo conhecimento, permanece na escola pelo apoio, incentivo e cuidado do mestre, sente-se encorajado a enfrentar dificuldades e transpor obstáculos, vem para a sala de aula porque alguém ali se importa com ele tratando-o como ser humano, muda comportamentos, respeita o outro e deixa de praticar a violência, alimenta sua vida com valores positivos ... ali estará uma conquista do professor.

Não precisamos de monumentos, nem de homenagens públicas, apenas queremos lembrar que nosso trabalho é construído de pequenos gestos, muitas vezes imperceptíveis aos olhos e mentes desatentos, quiçá para alguns insignificantes, mas que podem salvar vidas.
[1] Doutor em Educação – UFRGS. Professor da URI-Campus de Erechim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário