terça-feira, 16 de março de 2010

A INFLUÊNCIA DOS FATORES AMBIENTAIS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

A INFLUÊNCIA DOS FATORES AMBIENTAIS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

NASCIMENTO, Greicimára S. Do[1]
ORTH, Mara Rúbia Bispo[2]


Resumo: A temática “a influência dos fatores ambientais no desenvolvimento infantil” surge da pesquisa PIIC/URI, denominada “fatores ambientais e sua influência na educação infantil. Objetiva refletir criticamente sobre a influência dos fatores ambientais (ambiente familiar, físico, social, cultural e escolar) no desenvolvimento infantil. Há vários fatores que agem para facilitar ou contrariar o desenvolvimento humano, como o ambiente e os fatores dele decorrentes. Porém, o papel dos educadores torna-se essencial. Eles devem conhecer os diferentes ambientes em que suas crianças interagem para assim compreender seu comportamento, suas ações, sua maneira de aprender e seu processo de desenvolvimento, bem como a influência que os mesmos exercem sobre ele. A escola, partindo do conhecimento de onde vivem (ambiente familiar e físico) e onde se situam (ambiente social e cultural) as crianças, define o seu ambiente educativo, de forma a contemplar todos os aspectos necessários a boa formação de seus alunos.

Palavras-Chave: ambiente; criança; desenvolvimento infantil


Abstract: The thematic “a influence of the ambient factors in the infantile development” appears of research PIIC/URI, called “ambient factors and its influence in the infantile education. Objective to reflect criticamente on the influence of the ambient factors (surrounding familiar, physical, social, cultural and pertaining to school) in the infantile development. It has some factors that act to facilitate or to oppose the development, as the decurrent environment and factors of it. However, the paper of the educators becomes essential. They must know different environments where its children interact thus to understand its behavior, its action, its way to learn and its process of development, as well as the influence that the same ones exert on it. The school, leaving of the knowledge of where they live (surrounding familiar and physical) and where if they point out (surrounding social and cultural) the children, defines its educative environment, of form to contemplate all the necessary aspects the good formation of its pupils.

Key words: environment; child; infantile development


INTRODUÇÃO


A temática “a influência dos fatores ambientais no desenvolvimento infantil” surge da pesquisa PIIC/URI, denominada “fatores ambientais e sua influência na educação infantil”. Tem por objetivo refletir criticamente sobre como os fatores ambientais (ambiente familiar, físico, social, cultural e escolar) exercem influência no desenvolvimento infantil.
Entende-se que há vários fatores que agem para facilitar ou contrariar o desenvolvimento, dentre eles o ambiente e os fatores decorrentes dele. Porém, o papel dos educadores torna-se essencial, pois devem ter conhecimento e levar em conta todos os fatores ambientais de seu aluno para poder compreender a maneira do mesmo agir e aprender. Muitos comportamentos e ações vistos na escola podem decorrer dos fatores ambientais onde as crianças estão inseridas e isso é preciso ser compreendido e bem trabalhado pelos professores.
Nesse sentido, o estudo ora apresentado tem por base pesquisa bibliográfica sobre os fatores ambientais, embasado em leituras e análise do pensamento de teóricos da educação sobre a relação criança-ambiente.
Nessa direção é que o texto encontra-se estruturado da seguinte maneira: Primeiramente uma abordagem dos conceitos de ambiente segundo diferentes autores, tais como:David Molden, Aurélio Buarque de Holanda e Paul Folquié. Posteriormente, fala-se da relação criança-ambiente a partir do pensamento de teóricos da educação como: Rousseau, Froebel, Makarenko, Piaget, Vygotsky, Montessori, Decroly, Freinet e Charlot. Em seguida, apresenta-se os níveis de representação sobre ambiente e a influência que cada um exerce sobre o desenvolvimento infantil.E por fim, destaca-se o ambiente escolar, enfatizando as condições ambientais favoráveis para que o ambiente escolar seja realmente educativo e contribua para o progresso dos alunos.


1 CONCEITUANDO AMBIENTE


Para compreender a relação do ambiente com aprendizagem e desenvolvimento infantil,bem como diagnosticar a influência dos fatores ambientais nesse processo, faz-se necessário antes de mais nada, a conceitualização da palavra ambiente.
Ambiente, segundo o Dicionário Aurélio (1999, p.117) é uma palavra de origem latina, que significa “aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas; por todos os lados; é o conjunto de condições materiais e morais que envolve alguém.”
Para Molden, (1998, p.172), o ambiente consiste no conjunto das substâncias ou condições em que existe determinado objeto ou em que ocorre determinada ação.
Já para Foulquié (1976, p.25) em seu “Dicionário de Pedagogia”, ambiente também é a atmosfera moral (alegre, animada ou triste, séria ou frívola, etc.) resultando em uma agrupação humana (ponto de vista social). Segundo o autor, por muitos é dado a educação o nome de ambiente de auto-educação. Nesse viés, o material auto-educativo constitui para Montessori o meio primordial para estabelecer o ambiente.
No dicionário de ambiente[3] encontra-se a seguinte definição: “Conjunto dos sistemas físicos, ecológicos, econômicos e sócio-culturais com efeito direto ou indireto sobre a qualidade de vida do homem”.
Observando esses conceitos e definições trazidos por diferentes autores de diferentes áreas, é notório a semelhança que ambos apresentam. A palavra ambiente é quase sempre conceitualizada por um conjunto (de condições, de substâncias, de sistemas...) no qual o ser humano faz parte e é parte integrante. E o bom ou mau andamento desse conjunto é o que determina a qualidade de vida do homem, ou seja, os fatores que influenciam a sua vida social, psicológica, cultural, moral, escolar, que constituem, por sua vez, diferentes ambientes.
que é exterior ao organismo
2 FALANDO NAS RELAÇÕES CRIANÇA-AMBIENTE

Partindo da conceitualização de ambiente como um conjunto de condições que influenciam a vida social, cultural, moral e até mesmo escolar do homem, é possível perceber como ele é um agente continuamente presente na vivência humana. De fato, grande parte do comportamento do indivíduo envolve a interação com o espaço e no espaço, desde atividades simples, como alimentar-se e vestir-se, até atividades complexas, como definir um percurso na cidade.
Diante disso, percebe-se a grande importância do ambiente para o desenvolvimento infantil, pois é nele que a criança estabelece a relação com o mundo e com as pessoas e é ele que vai garantir a sua formação e a sua qualidade de vida social, moral, psicológica e cultural.
Nesse viés, o papel do ambiente no desenvolvimento infantil, é uma questão fundamental para o desenvolvimento humano.
Rousseau em sua obra “Emílio ou Da Educação”, traz a concepção de uma educação natural. A criança precisa ser criada livremente, ou seja, deve-se respeitar a liberdade e a natureza da criança, educando-a em um ambiente livre e natural.Afirma que a criança criada livremente, no campo, terá mais facilidade para falar e aprender (por si mesmas elas aprendem).

Não deveis deixar que a criança seja metida em outros invólucros que a apertem ainda mais. Nada de testeiras e nada de faixas; fraldas soltas e largas que deixem todos os seus membros em liberdade e não sejam nem muito pesadas para atrapalhar seus movimentos, nem quentes demais para impedir que sinta as impressões do ar. Colocai-a num grande berço, onde ela possa movimentar-se à vontade e sem perigo. Quando começar a ficar mais forte, deixai-a engatinhar pelo quarto; deixai que a criança se desenvolva e estique as perninhas e os bracinhos e vereis que ela se fortalecerá a cada dia. Comparai-a com outra criança bem enfaixada, da mesma idade, e ficareis admirados com a diferença de seus progressos. (ROUSSEAU, 1999, p. 42 e 43).



A infância para Rousseau é caracterizada como a Idade da Natureza. A educação não vem de fora, é a expressão livre da criança no seu contato com a natureza.

A criança precisa ser criada livremente. Precisa correr e cair cem vezes por dia, assim aprenderá mais cedo a se levantar. Ela pode e deve sentir dor. Sofrer é a primeira coisa que deverá aprender, para que quando seja adulto não acredite morrer a primeira picada e desmaie ao ver a primeira gota de sangue. [...] É na infância, onde as dores são menos sensíveis, que devemos multiplicá-las, para poupá-las na idade da razão. (ROUSSEAU, 1999, p. 236)



Já Froebel (1985), defendendo o jogo, a psicomotricidade e a jardinagem como atividades a serem incentivadas e praticadas nas escolas, alertou para a integração escola-natureza e, portanto, para as necessidades desta conter espaços livres utilizáveis pelos estudantes.
Nessa perspectiva, para Makarenko (1981), não é o educador que educa, mas sim o ambiente, por isso é necessário que o ambiente seja acolhedor, propício e favorável ao aprendizado e desenvolvimento da criança, não só o ambiente escolar como também o familiar.
Nesse sentido, a liberdade individual, a autodeterminação infantil e o uso de material didático concreto e lúdico defendidos por Montessori (1980) pediam salas de aula grandes, acomodando móveis não fixos, a fim de possibilitar uma disposição dos materiais que facilitasse as escolhas infantis; a ocorrência simultânea e sem interferência mútua de diversas atividades individuais e grupais; e a prática de exercícios coletivos em círculos.
Explicitando que o contato da criança com a dinâmica da natureza a estimulava em diversos sentidos, Decroly (1980) valorizava o espaço exterior como fonte de saúde e elemento gerador de curiosidade, conhecimento e aprendizado. Para facilitar tal processo a escola deveria dispor de área verde e animais, de modo a possibilitar o acompanhamento da variação das estações do ano e da evolução natural.
Expandindo o conceito de aula para além dos muros da escola, Freinet alterou o conceito tradicional de classe (sala). Além disso, ao incentivar o trabalho em grupos e promover a prática de produção de material didático como atividade discente, ele colocou em evidência as mesas de trabalho maiores e os equipamentos para reprodução de textos (na época, pelo processo tipográfico).
Piaget e Vygotsky (2002) falam da questão do ambiente social para a aprendizagem, porém os dois divergem nas opiniões.
Piaget, embora reconheça a presença de fatores externos, fatores sociais nos processos cognitivo, ainda está longe se reconhecer sua importância na determinação das operações intelectuais (Concepção construtivista – interno – perspectiva evolucionista de conhecimento-interação com o meio).
Já Vygotsky, com seus pressupostos sócio-interacionistas, aponta uma direção oposta à Piaget. Seus esforços teóricos se canalizaram na procura de explicações sobre os meios através dos quais as relações atuais do indivíduo com o meio social tomam parte na construção do conhecimento.
Portanto, enquanto Piaget busca compreender as estruturas do pensamento através do mecanismo interno que as produz, Vygotsky procura compreender de que maneira se dá a interferência do mundo externo no mundo interno, ou como a natureza sócio-cultural se torna a natureza psicológica.
Educar é adaptar o indivíduo ao meio social ambiente.
Desta forma:
APRENDIZAGEM PARA:
Piaget – De dentro para fora
Vygotsky – De fora para dentro.

Para Vygotsky a aprendizagem se dá pela interação com o outro. O sujeito não é ativo, nem passivo, mas interativo. Sua atividade passa a ser considerada, não no isolamento das relações do sujeito com o mundo físico, mas nas interações mediadas pelos signos culturalmente construídos nas interações sociais. Sob esse prisma, não só o conhecimento, mas também a subjetividade, são processos que se constituem e serão constituídos através das interações sociais ou mediadas.
Charlot (2000, p.138) traz a relação com o saber e o ambiente social. Afirma que não há relação com o saber senão a de um sujeito. Não há sujeito senão em um mundo e em uma relação com o outro. Assim:
“MUNDO” – Aquele em que a criança vive, um mundo desigual, estruturado por relações sociais.
“EU” – Sujeito. É um aluno que ocupa uma posição, social e escolar, que tem uma história, marcada por encontros, eventos, rupturas, esperanças, a aspiração, a tornar-se alguém, etc.
“O OUTRO” – São os pais que atribuem missões ao filho, professores que “explicam” de maneira mais ou menos correta, que estimulam ou às vezes proferem insuportáveis “palavras de fatalidade”.
Diante destas idéias, dar maior atenção às características sócio-físicas-culturais dos ambientes e às relações entre estes e a criança, garantindo a ela oportunidades de contato com espaços variados, tanto construídos pelo homem quanto naturais, é uma maneira de proporcionar à infância condições plenas de desenvolvimento, gerando consciência de si e do entorno que são provenientes da riqueza experiencial.

3 NÍVEIS DE REPRESENTAÇÕES SOBRE AMBIENTE

Sendo ambiente o conjunto de condições materiais e morais que envolve alguém, que age direto ou indiretamente sobre a vida do ser humano, entende-se que existem vários tipos ou níveis de representações sobre ambiente.
Dessa forma, divide-se os diferentes ambientes em três grupos:

ambiente familiar
ì
1 – Onde vive
î
ambiente físico



ambiente social
ì
2 – Onde se situa
î
ambiente cultural
físico
ì
3 – Ambiente Escolar
î
educativo


3.1 ONDE VIVE

3.1.1 Ambiente familiar

Historicamente, a família tem sido considerada o ambiente ideal para o desenvolvimento e a educação de crianças pequenas. Essa é a posição de alguns sistemas educacionais, que sustentam que a responsabilidade da educação dos filhos, particularmente quando pequenos, é da família, e assumem um papel de meros substitutos dela, repetindo as metas embutidas nas práticas familiares. (OLIVEIRA,2005, p.175)


Muitas instituições de educação infantil vêem o lar, a casa de seus alunos, como uma área livre de tensões, como refúgio onde reina a paz, a harmonia, o carinho, a compreensão e onde todos os membros da família partilham dos mesmos interesses.
No entanto, é preciso lembrar que hoje existem diversas formas de arranjo familiar, bem diferente da imagem que ainda se mantém como o ambiente correto para o bom desenvolvimento infantil: uma família onde o pai trabalha para prover os recursos necessários à sobrevivência física e a mãe é a grande responsável pelos cuidados da casa, dos filhos e da educação dos mesmos.
Grande parte das crianças brasileiras vivem em famílias totalmente diferentes desta idealizada. Convivem com separações de pais, uniões informais, famílias monoparentais, etc., fatores esses que são considerados perigosos para o bom desenvolvimento das crianças em todos os seus aspectos.
Além disso, a cultura da violência está presente em muitas famílias (agressões, ameaças, espancamentos), assim como os abusos sexuais, o abandono por parte dos pais, a falta de tempo que os pais têm para ficarem junto com os filhos. Todos esses fatores que dizem respeito ao ambiente familiar, além de arranharem a imagem da família podem interferir no desenvolvimento dessa criança.
Um ambiente desestruturado, foco de tensões, brigas ou mesmo onde há apenas indiferença, esquecimento, pode ser um fator ambiental que influencie no desenvolvimento infantil, e isso deve ser levado em conta pelos professores de educação infantil. A imagem de uma família nuclear, vivendo em harmonia não pode ser desprezada, mas não deve ser vista como única e presente na sociedade de hoje.

3.1.2 Ambiente físico

O ambiente físico caracteriza-se pelo conjunto das qualidades exteriores e materiais do homem, abrangendo desta maneira todos os espaços em que o indivíduo vive.
Assim sendo, existem diferentes tipos de ambientes físicos, determinados pela distinção sócio-econômica e cultural existente.
Considerando os ambientes físicos em que uma criança possa interagir, destacam-se o lar/a casa e a escola.
Sem dúvida alguma, o ambiente físico da escola tem grande importância no desenvolvimento infantil, mas neste momento dar-se-á ênfase no espaço físico onde a criança vive com a família, ou seja, o lar, a casa.
O ambiente físico onde a criança vive, exerce grande influência sobre seu desenvolvimento, isso observa-se principalmente nas realidades mais precárias. Geralmente, nas regiões periféricas, os espaços físicos são precários e pouco favoráveis ao bom crescimento das crianças. Casas pequenas, sem infra-estrutura, famílias grandes, muitas vezes desarmoniosas, formam o ambiente físico de muitas crianças brasileiras.
Juntamente com o ambiente familiar, o espaço físico, quando acolhedor e propício, contribui para o bom desenvolvimento infantil, e é preciso que os professores estejam atentos a esses aspectos diariamente, no momento de avaliar a evolução da criança. É necessário conhecer o aluno não somente no ambiente-escola, mas sim em todos os ambientes em que vive, na sua totalidade, para então entender suas lacunas e suprir suas necessidades.

3.2 ONDE SE SITUA

3.2.1 Ambiente social

O ambiente social da criança caracteriza-se pelo conjunto de espaços onde ela interage, cujo apego e apropriação são facilitados pela familiaridade: a casa, o bairro, a escola...
Assim como o ambiente familiar, o ambiente social varia muito de criança para criança. Isso é determinado pelos indicadores sócio-econômicos. Crianças que vivem em famílias de boa renda situam-se em um ambiente social diferente do que aquele em que vive uma criança de família de baixa renda. As realidades são diferentes, conseqüentemente, os espaços ocupados por elas são diferentes e os processos de socialização diferem também.
Nesse sentido, a desvantagem sócio-econômica tem sido apontada como fator de risco ao desenvolvimento, isso porque, a criança que vive em um ambiente social de pobreza aliada a violência, a más condutas, a vizinhança de risco, a instabilidade familiar tende a apresentar problemas de comportamento, de socialização, prejudicando sua aprendizagem e seu desenvolvimento. É claro e importante ressaltar que essa constatação não é regra, mas é um ponto que deve ser observado com atenção nas escolas de educação infantil.

3.2.2 Ambiente cultural

O ambiente cultural diz respeito a cultura. Por sua vez, cultura, segundo o Dicionário Aurélio (1999, p.256) “é o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas, intelectuais, etc., transmitidos coletivamente e típicos de uma sociedade; o conjunto dos conhecimentos adquiridos por determinado grupo.”
A cultura é um fator que influencia muito na escola. Cada escola abrange uma cultura diferente, de acordo com o lugar que está inserida, com as pessoas que fazem parte da comunidade escolar e com a realidade que abrange.
Desta forma, é possível notar que o ambiente cultural é formado pelo ambiente familiar, físico e principalmente pelo social. A integração desses três níveis de representação de ambiente é que formam o ambiente cultural.
O ambiente cultural em que a criança se situa, deve ser respeitado pela escola na medida em que venha a contribuir com o seu crescimento e que não venha a comprometer o seu desenvolvimento.
Muitos comportamentos e ações realizadas pelas crianças e até mesmo pelos pais, são frutos desse ambiente cultural em que vivem.
Nesse sentido, a escola precisa ser um espaço mediador entre o lado positivo e o lado negativo dessa cultura, buscando entendê-la e respeitá-la da maneira que é, mas interferindo de modo positivo quando necessário, visando não só o crescimento das crianças como também a realização do papel social da escola.
A cultura tem influência na escola, contudo, a escola possui ferramentas para exercer influência positiva sobre a cultura, podendo assim, modificar o ambiente cultural de seus alunos de uma maneira saudável e educativa.

3.3 AMBIENTE ESCOLAR

O ambiente escolar refere-se ao espaço da escola, assim, ele se divide em ambiente físico e ambiente educativo.
É incontestável a grande importância do ambiente físico para o desenvolvimento das potencialidades da criança. O espaço físico da escola deve contemplar todos os aspectos necessários para o processo de crescimento e desenvolvimento da criança da educação infantil.Esta é uma questão que precisa ser muito bem observada e levada a sério pelas escolas. Uma boa infra-estrutura e ambientes diversificados, amplos e prazerosos propiciam o aprendizado.
Aliado a um bom e acolhedor ambiente físico, encontra-se o ambiente educativo. Este ambiente inclui o material didático-pedagógico da escola. De nada adianta a escola ter uma ótima infra-estrutura, com grande espaço disponível, se não tem bons materiais didático-pedagógicos que venham a propiciar o desenvolvimento integral da criança.
Partindo do conhecimento de onde vivem (ambiente familiar e físico) e onde se situam (ambiente social e cultural) as crianças, a escola define o seu ambiente educativo, de forma a contemplar todos os aspectos necessários a boa formação de seus alunos.
A união de um ambiente físico adequado a um ótimo material didático-pedagógico formam as condições ambientais favoráveis ao ambiente escolar educativo, que será abordado a seguir.

4 CONDIÇÕES AMBIENTAIS FAVORÁVEIS: O AMBIENTE ESCOLAR EDUCATIVO

Como já foi ressaltado, para que o ambiente escolar seja educativo são necessárias algumas condições ambientais, tais como: uma boa infra-estrutura física com espaço adequado e ótimos materiais didático-pedagógicos.

4.1 INFRA-ESTRUTURA FÍSICA E ESPAÇO DISPONÍVEL

Nos últimos anos a atenção com as áreas livres das escolas tem aumentado, sendo a sua quantidade e a qualidade dos cuidados/manutenção e equipamentos associadas à qualidade de vida das crianças. Assim, a existência de áreas livres espaçosas, parte ensolaradas, parte sombreadas, tem assumido cada vez mais importância na delimitação dos ambientes destinados à educação infantil, uma vez que tais locais permitem às crianças desenvolver a psicomotricidade ampla (correr, pular, exercitar-se), participar de jogos ativos e estabelecer um maior contato com a natureza.
A infra-estrutura física deve levar em conta uma série de requisitos que são indispensáveis à formação das crianças. Cada vez mais o ambiente físico e os arranjos espaciais existentes nas creches e pré-escolas têm sido apontados como setores que requerem especial atenção e planejamento. As pesquisas demonstram a importância da significação que a criança pequena empresta ao ambiente físico, que pode lhe provocar medo ou curiosidade, irritabilidade ou calma, atividade ou apatia.
É importante dizer que a qualidade do ambiente não diz respeito apenas a suas características psicofísicas ou higiênicas, pois todo contexto ambiental é um sistema de inter-relações dos vários componentes físicos e humanos que dele participam. Indivíduos que habitam o mesmo ambiente diferem em seus atributos e em suas idéias, assumindo comportamentos que também são diferentes. Contudo, podem-se identificar atributos comuns na população de um determinado ambiente e padrões extra-individuais de comportamento característicos dele.Isso prova, mais uma vez, que o ambiente exerce grande influência na educação infantil.
O ambiente constitui expressão de um sistema social com suas relações, ideologias e rotinas. É esse sistema que prescreve a função de um espaço físico-social e as pessoas podem utilizar, o que podem fazer e com quem. O ambiente define diversas práticas sociais que desenvolvem diferentes competências.
A criança precisa de espaço para brincar, descobrir e descobrir-se, para se desenvolver. Por isso é inadmissível que ainda existam creches e pré-escolas com salas com pouco mobiliário e poucos objetos e brinquedos, com salas atulhadas de berços e crianças ou abarrotadas de mesas, cadeiras, imitando um espaço escolar já ultrapassado.
É preciso organizar o ambiente da escola, os espaços disponíveis devem ser amplos e acolhedores e ter diversos ambientes em que a criança possa interagir.
Segundo Faria e Palhares (1999, p.69), “a organização do espaço deve contemplar a gama de interesses da sociedade, das famílias e prioritariamente das crianças atendendo as especificidades de cada demanda, possibilitando identidade cultural e sentido de pertencimento.”

Organizar o cotidiano das crianças na educação infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma seqüência básica de atividades diárias é, antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades. É importante que o educador observe o que as crianças brincam, preferem ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momento do dia estão mais tranqüilos ou mais agitados. Este conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço-temporal tenha significado. Ao lado disto, também é importante considerar o contexto sociocultural no qual se insere a proposta pedagógica da instituição, que deverá lhe dar suporte. (CRAIDY E KAERCHER, 2001, p.67)


Nesse viés, deve-se observar também se o espaço condiz com a proposta pedagógica da escola. Não basta organizar a sala em “cantinhos”, se nela persistir uma pedagogia centrada nas instruções do professor. Muitas vezes o espaço busca impedir a movimentação das crianças e a interação entre elas.
Sendo assim, torna-se essencial que as escolas de educação infantil busquem adequar-se segundo as normas, tendo uma infra-estrutura adequada e muitos espaços disponíveis às descobertas das crianças. A organização do ambiente físico da escola é primordial e não pode ser relapsa.

4.2 MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Um ambiente educativo, além da organização do espaço, requer bons materiais didático-pedagógicos. Os materiais didático-pedagógicos constituem-se em materiais que auxiliam os trabalhos dos educadores e visam o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e sociais das crianças.
O ambiente das creches e pré-escolas pode ser considerado como um campo de vivências e explorações, zona de múltiplos recursos e possibilidades para a criança reconhecer objetos, experiências, significados de palavras e expressões, além de ampliar o mundo de sensações e percepções. Funciona, esse ambiente, como recurso de desenvolvimento, e, para isso, ele deve ser planejado pelo educador, parceiro privilegiado de que a criança dispõe.

A criança, desde cedo, reconhece o espaço físico ou atribui-lhe significações, avaliando intenções e valores que pensam ser-lhe próprios. Daí a importância de organizar múltiplos espaços de modo que estimulem a exploração de interesses, rompendo com a mesmice e o imobilismo de certas propostas de trabalho de muitas instituições de educação infantil. O que importa verificar não são as qualidades ou os aspectos do ambiente, mas como eles são refratados pelo prisma da experiência emocional da criança e atuam como recursos que ela emprega para agir, explorar, significar e desenvolver-se. (OLIVEIRA, 2005, p.194)


Um ambiente não deve ser carregado de símbolos que chamam a atenção das crianças para certos aspectos. Por vezes se vê, nas creches e pré-escolas, um espaço enfeitado de cartazes, abecedários que tratam de conteúdos mais escolares. Outros ambientes têm na parede figuras de desenhos animados, da indústria cultural voltada à infância. Todavia, o que deve ser valorizado aqui, são os trabalhos autônomos das crianças, que devem ser expostos.
Alguns materiais didático-pedagógicos como brinquedos, blocos, argila, telas, cartazes, filmes, ábacos, jogos, lousa e outros são estímulos visuais e cinéticos, em que as características (formato, cor, tamanho, textura e usos) dos objetos são por elas interpretadas como desencadeadoras de determinados enredos de ação.
Os educadores tendo em mãos bons materiais didático-pedagógicos, podem ocupar e utilizar diferentes espaços, modificando-os em função dos interesses das crianças. A criança precisa ser inserida em ambientes aconchegantes, cheios de materiais diferentes e atrativos, com uma decoração bem cuidada e com espaço de sobra para brincar, fantasiar, descobrir e aprender. Essas são as condições ambientais favoráveis para um ambiente escolar realmente educativo.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se falar de “educação infantil” em um sentido bastante amplo, envolvendo toda e qualquer forma de educação da criança na família, na comunidade, na sociedade e na cultura que viva. (KUHLMANN, 2000, p. 469)


Uma educação comprometida com a mudança situa o humano no centro de suas ações. Isso significa que ela precisa estar imbuída de princípios e compromissos com a transformação social. Para tanto, os fatores ambientais necessitam ser destacados como preponderantes na relação entre os sujeitos e no processo de mudanças pela maneira de se ensinar e aprender.
Por esse viés, nota-se o grande papel dos educadores no que diz respeito ao conhecimento desses fatores ambientais e de saber trabalhar e conviver com eles na escola. A criança não deve ser vista apenas enquanto sujeito na escola, mas sim como um sujeito na sociedade, levando em conta a sua vida lá fora e os ambientes em que vive e se situa.
Contudo, a maneira com que se trabalha essa questão, encaminha a exclusão de se conhecer e trabalhar os diferentes fatores ambientais, tais como: historicidade individual, da família, social, cultural, da educação; as relações humanas; o tempo e o espaço disponível à criança. O que, infelizmente, para muitos educadores são considerados naturais e normais às condições e vivências dessas crianças.
No entanto, é preciso ter consciência de que esses fatores condicionam a criança a determinadas vivências que podem influenciar no seu desenvolvimento.Isso exige dos educadores reflexão e preparo para saber trabalhar com a presença desses fatores ambientais proporcionando condições para formação integral de seu aluno.
Além disso, torna-se essencial pensar também no ambiente da escola. O ambiente escolar precisa de muitos cuidados. Um ambiente acolhedor, atrativo, prazeroso com muito espaço e materiais pedagógicos de qualidade, faz muita diferença no processo de desenvolvimento da criança.
Assim, dar maior atenção aos diversos ambientes de que a criança faz parte, tanto no espaço externo quanto no interno da escola, torna-se primordial para garantir e proporcionar o pleno desenvolvimento desta em todos os aspectos. Isso porque, valores sociais, culturais e familiares são elementos que colaboram para delinear os objetivos, atividades e estratégias de ensino adequadas aos níveis de desenvolvimento das crianças atendidas e às exigências sociais que se apresentam para elas.

REFERÊNCIAS

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul LTDA, 2000.
CHÂTEAU, Jean. Grandes Pedagogos. México: Fundo de Cultura Econômica, 1980.
CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis. Educação Infantil: pra que te quero. Porto Alegre: Artmed, 2001.
FARIA, Ana Lucia Goulart e PALHARES, Marina Silveira (Orgs.). Educação Infantil pós-LDB: rumos e desafios. São Paulo: Autores Associados, 2000.
GARCIA, Regina. Revisitando a pré-escola. São Paulo: Cortez, 2002.
KOCH, Dorvalino. Desafios da educação infantil. São Paulo: Loyola, 1985.
KUHLMANN JR., Moysés. Educando a infância brasileira. In: LOPES, Eliane Marta T., FARIA FILHO,Luciano M. & VEIGA, Cynthia G. 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autentica, 2000.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio, Século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
FOULQUIÉ, Paul. Dicionário de Pedagogia. Barcelona: Oikos-tau, 1976.
MAKARENKO, Antonio S. Conferências sobre educação infantil. Trad. VIZOTTo, Maria Aparecida A. Vizzotto. São Paulo: Moraes, 1981.
MOLDEN, David. Neurolinguística nos Negócios. Rio de Janeiro: Campus,1998.
OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
ROUSSEAU, Jacques. Emílio, ou da educação. São Paulo: Autores Associados, 2000.
[1] Bolsista de Iniciação Científica, Acadêmica do 7º Semestre do Curso de Pedagogia – Docência na Educação Infantil da URI Campus de Erechim.
[2] Mestre em Educação, Coordenadora e Professora do Curso de Pedagogia da URI Campus de Erechim.
[3] Www.iapmei.pt/iapmei-gls

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