terça-feira, 16 de março de 2010

A EDUCAÇÃO INFANTIL NA HISTÓRIA E NA ATUALIDADE

A Educação Infantil na história e na atualidade
ORTH, Mara Rúbia Bispo[1]
NASCIMENTO, Greicimára Samuel do[2]

Resumo

A temática “a educação infantil na história e na atualidade” surge da pesquisa PIIC/URI “a construção de práticas didático-pedagógicas diferenciadas em educação infantil”. Objetiva refletir criticamente sobre a história da educação infantil, a estrutura da infância no Município de Erechim, bem como, analisar os dados colhidos. Dessa forma, a metodologia utilizada tem como foco pesquisa exploratória através de estudo bibliográfico e documental a fim de sistematizar os pensamentos pedagógicos dos principais pensadores da educação a cerca da educação infantil; entrevistas e questionários com os sujeitos escolares e institucionais, e, a partir disso, a análise dos dados colhidos na pesquisa para a possível proposição de práticas pedagógicas diferenciadas à educação infantil. Esse processo vem culminar com a idéia de que existe ou é possível construírmos um pensamento pedagógico brasileiro à educação infantil, haja vista que a educação a partir do século XVI, inicia-se com preocupação sobre a Infância.

PALAVRAS-CHAVE: Educação; Infância; Pedagogia

Abstract

The thematic "a infantile education in history and the present time" appears of practical research differentiated PIIC/URI "the construction of didactic-pedagogical in infantile education". Objective to reflect criticamente on the history of the infantile education, the structure of infancy in the City of Erechim, as well as, to carry through analysis of the harvested data. Of this form, the used methodology has as focus searches exploratória through bibliographical and documentary study in order systemize the pedagogical thoughts of the main thinkers of the education about the infantile education; interviews and questionnaires with the pertaining to school and institucional citizens, and, to leave of this, the analysis of the data harvested in the research for the possible proposal of practical pedagogical differentiated to the infantile education. This process comes to culminate with the idea of that it exists or it is possible to construírmos a Brazilian pedagogical thought to the infantile education, has seen that the education from century XVI, is initiated with concern on Infancy.

WORD-KEY: Education; Infancy; Pedagogia


Introdução

A temática "a educação infantil na história e na atualidade" surge da pesquisa "a construção de práticas didático-pedagógicas diferenciadas em educação infantil". Objetiva refletir criticamente sobre a historicidade da educação infantil, a estrutura da educação infantil no Município de Erechim, bem como analisar os dados obtidos com a pesquisa.
Nesse sentido, a metodologia utilizada tem como foco entrevistas, fonte bibliográfica e documental e, a partir disso, a análise dos dados coletados.
O texto está estruturado da seguinte maneira: Primeiramente, uma breve contextualização da educação infantil visando compreender o tema na sua historicidade, destacando alguns educadores que influenciaram a educação infantil. E, em seguida, uma abordagem dos conceitos: criança, cuidar e educar. Posteriormente, apresentamos os dados obtidos na pesquisa e, por fim, as considerações preliminares, nas quais destacamos elementos importantes e necessários para a educação infantil e para a prática pedagógica do professor que nela atua.

1 Surge a Educação Infantil

A educação infantil, bem como a infância, teve sua descoberta somente nos séculos XVI, XVII e XVIII, quando então se reconheceria que as crianças precisavam de tratamento especial antes que pudessem integrar o mundo dos adultos. Até então, especificamente na Idade Média, a infância era ignorada, a passagem da criança pela família era insignificante e se reduzia ao tempo “enquanto o filhote não conseguia bastar-se”, isto é, havia falta de consciência acerca das particularidades da infância.
Foi no início do século XVII, que surgiram as primeiras preocupações com a educação das crianças pequenas. Essas preocupações foram resultantes do reconhecimento e valorização que elas passaram a ter no meio em que viviam. Mudanças significativas ocorreram nas atitudes das famílias em relação às crianças que, inicialmente, eram educadas a partir de aprendizagens adquiridas junto aos adultos e, aos sete anos, a responsabilidade pela sua educação era atribuída a outra família que não a sua. Apesar de uma grande parcela da população infantil continuar sendo educada segundo as antigas práticas de aprendizagem, o surgimento do sentimento de infância (que, de acordo com Philippe Áries (1978), surgiu no século XVII, quando a sociedade passou a ter consciência da educação infantil, distinguindo a criança do adulto) provocou mudanças no quadro educacional. Começaram a surgir as primeiras preocupações com a educação das crianças pequenas, e desde então, surgiram as primeiras propostas educativas contemplando a educação da criança de 0 a 6 anos.
Nesse sentido, observamos que a educação infantil, nos dias atuais, além de possuir raízes históricas na Idade Média, continua com a predominância de educar a partir dos ensinamentos transmitidos pelos adultos. Essa dimensão é muito bem defendida por Durkeim ao definir a educação como fator social, pelo qual uma sociedade transmite o seu patrimônio cultural e suas experiências de uma geração mais velha para uma mais nova, garantindo sua continuidade histórica.

1.1 A Educação Infantil no Século XVII

Vários teóricos (Comenius, Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Montessori, Dewey, Decroly, Piaget, Vygotsky, etc.) desenvolveram seus ideais sobre educação, incluindo aí a educação para a infância.
O nascimento do pensamento pedagógico moderno, nos séculos XVI e XVII, impregnando-se do pragmatismo tecnicista e do desenvolvimento científico ocorrido com a expansão mercantilista, criou novas perspectivas educacionais, que terminaram repercutindo na educação de crianças pequenas. Neste período, por meio dos movimentos religiosos da época, foram organizadas escolas para pequenos (a partir dos 6 anos), onde ensinavam a ler e a escrever. Já, para crianças pobres de 2 ou 3 anos, apenas no século XVIII, surge a necessidade de incluí-las e atendê-las.
A idéia de educar crianças menores de 6 anos de diferentes condições sociais, já era tratada por Comenius (1592-1670), que propunha um nível inicial de ensino que era o “colo de mãe". Organizou a sua didática em quatro períodos considerando os anos de desenvolvimento, quais sejam: a infância, puerícia, adolescência e juventude, durando um período de seis anos.
Ao atribuir aos pais a tarefa da educação da criança pequena (o que na época representava um grande avanço, pelo fato dos pais, até então, não terem essa responsabilidade), Comênius chamou a atenção para a importância desse período e suas repercussões na vida do ser humano.
A leitura que realizamos sobre Comênius encaminha-nos a perceber que ainda suas idéias continuam sendo fortemente impregnadas como paradigma educacional. Isso porque as práticas pedagógicas escolares e educacionais dominantes subsidiam-se com parâmetros nessa perspectiva, tanto no que se refere a currículo de formação de professores como a escolas de educação básica.
1.2 A Educação Infantil no século XVIII

As instituições pré-escolares nasceram no século XVIII em resposta à situação de pobreza, abandono e maus tratos de crianças pequenas, cujos pais trabalhavam em fábrica, fundições e minas criadas pela Revolução Industrial que se implantava na Europa Ocidental. Inicia-se, assim, a concepção de pré-escola baseada no binômio cuidado e educação. Isso possui o significado de que somente após a Revolução Industrial, a educação com assistência às crianças passou a ser destaque.
Todavia, a questão metodológica que preocupava os pioneiros na área no século XVIII, sob a influência do ideário da Revolução Protestante, era descobrir como conciliar novas formas disciplinadoras da criança que eliminassem punições físicas.
Dentro de uma perspectiva de oposição ao ideário da Reforma e da Contra-Reforma, a educação infantil beneficiou-se das colocações de Jean Jacques Rousseau (1712-1770) que privilegia a criança como indivíduo, e para a qual, a escola é organizada para ser o mundo da criança. Para ele, a criança deve experimentar desde cedo coisas e situações de acordo com seu próprio ritmo, com seu processo maturacional. Ao invés de disciplinamento exterior, eram propostos a liberdade e o ritmo da natureza. O esforço pedagógico deveria estar direcionado ao cultivo da intimidade, cultivo do coração, do que é natural no homem e de onde poderiam vir os melhores frutos.
O que podemos compreender sobre o pensamento de Rousseau diz respeito a princípios doutrinários de preservação da espécie humana, ou seja, preservar as crianças dos problemas, conflitos, violências permitindo que ela se desenvolva naturalmente. A repercussão deste pensamento está configurado nos dias atuais na Declaração dos Direitos da Criança e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Esses pensamentos teóricos abriram caminho para os trabalhos de Pestalozzi (1746-1827), que propôs modificações nos métodos de ensino. Criou um orfanato para crianças pobres e defendeu que a educação deveria ocorrer em um ambiente mais natural possível, sob um clima de disciplina estrita, mas amorosa, o que contribuiria para o desenvolvimento do caráter infantil.
O pensamento trazido por Pestalozzi no século XVIII refere-se à questão da disciplina como princípio para a formação do caráter da criança. O que ele propõe é que a criança seja educada num ambiente de disciplina que não seja em sentido autoritário, e sim, que contribua para o seu desenvolvimento como pessoa atuante na sociedade.
1.3 A Educação Infantil no século XIX

Discípulo de Pestalozzi, Froebel (1782-1852) propôs a criação de jardins de infância, onde as crianças – pequenas sementes que adubadas e expostas a condições favoráveis em seu meio ambiente, desabrochariam em um clima de amor, simpatia e encorajamento – estariam livres para aprender sobre as mesmas e sobre o mundo.
A contribuição de Froebel para a educação infantil foi de grande importância. A criação dos jardins de infância, proposta por ele no século XIX, proporcionou a educação para as crianças pequenas em vários aspectos do desenvolvimento. Seu pensamento de que as crianças precisariam aprender sobre as mesmas e sobre o mundo está de acordo com o disposto na Lei de Diretrizes e Bases sobre a educação infantil (1996) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação infantil (2000) ao afirmar que: “As instituições de educação infantil devem promover em suas propostas pedagógicas, práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/lingüísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível.”

1.4 A Educação Infantil no século XX

Dentro da lista dos principais pioneiros que construíram a idéia de uma educação infantil, incluímos também o nome de Maria Montessori (1870-1952). Ela construiu o pensamento de educação infantil na perspectiva biológica do crescimento e desenvolvimento infantil. Propôs material adequado à exploração sensorial e mobiliário para as crianças.
Foi no final do Século XIX e no decorrer do Século XX, que aconteceram, na Europa e
nos Estados Unidos da América, mudanças significativas no campo educacional. As escolas laicas marcaram a ruptura do domínio da Igreja sobre a educação, reafirmando a hegemonia da burguesia liberal. Um grande movimento de renovação pedagógica denominado “movimento das escolas novas”, também, aconteceu nesse período.
O educador norte-americano John Dewey (1859-1952) foi o primeiro a formular o novo ideal pedagógico, afirmando que o ensino deveria dar-se pela ação, privilegiando assim, o interesse do educando. Tratava-se de aumentar o rendimento da criança, seguindo os próprios interesses vitais dela. Um dos pontos culminantes das contribuições de Dewey pode ser hoje encontrado em um grande número de escolas infantis, trata-se do “método de projetos”. Na realidade, o que vimos foi o desencadeamento de novos modelos didáticos e, desde esse período, o “sistema de projetos” foi aperfeiçoado por vários discípulos de Dewey, dentre os quais destacamos William Heard Kilpatrik.
Nesse contexto, destacamos Ovide Decroly (1871 – 1932) que, inicialmente, desenvolveu suas atividades educativas junto a crianças anormais (1901). Num momento posterior (1907), resolveu desenvolver sua proposta educativa junto às crianças normais, criando uma escola em Bruxelas, “L’ermitage” . Sua preocupação, ao expor sua proposta, era a de substituir o ensino formalista, baseado no estudo dos tradicionais livros de textos, por uma educação voltada aos interesses e às necessidades das crianças. O “Sistema Decroly” está baseado em fins e em princípios para uma nova escola que supere a escola tradicional.
Em conseqüência, concluiu que o que mais interessa ser conhecido pela criança é, em primeiro lugar, ela mesma, para depois, conhecer o meio em que vive. Foi em função dessas conclusões e das características e domínios, acima citados, que apresentou seu programa de idéias associadas, concebido da seguinte maneira: 1. a criança e suas necessidades; 2. A criança e seu meio.
Ao apresentar esse programa, Decroly preocupou-se com a forma como ele deveria ser abordado. Partia do princípio de que a melhor alternativa para abordá-lo seria fazer uso da “globalização” e, para isso, propôs que o ensino fosse desenvolvido a partir dos “Centros de interesse”. Partir do interesse da criança significa respeitar o seu desenvolvimento e suas necessidades. Para isso deveriam fazer uso da "observação, associação e da expressão".
Jean Piaget (1896-1980) investigou sobretudo a natureza do desenvolvimento da inteligência na criança. Propõe uma escola que não fizesse as crianças apenas escutar, mas também as colocassem em situação de fazer e de falar. Escola Ativa.
A preocupação com o desenvolvimento cultural da humanidade, levou Lev Semenovich Vygotsky (1896 – 1934) a envolver-se com a infância, através de alguns estudos que lhe permitissem compreender o comportamento humano, justificou que “a necessidade do estudo da criança reside no fato de ela estar no centro da pré-história do desenvolvimento cultural devido ao surgimento do uso de instrumentos da fala”(GADOTTI, 2003, p.184). Para isso, dedicou-se ao estudo da “pedologia” – ciência da criança, voltada para o estudo do desenvolvimento humano, articulando os aspectos psicológicos, antropológicos e biológicos.
Para Vygotsky (1991, p.15) desenvolvimento e aprendizagem são processos interativos.
No entanto, cabe ao processo de aprendizagem, realizado em um contexto social específico, possibilitar o processo de desenvolvimento, “o aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida
intelectual daqueles que as cercam”.
No Brasil, a Educação Infantil teve início no final do século XIX com o aparecimento das primeiras formas de assistência aos filhos de mulheres que trabalhavam na indústria. Porém, estas tinham objetivos puramente assistenciais e de atendimento médico. Nessa época, a assistência patronal propiciava, para uso de seus operários, além de moradia e armazém, também creches e escolas.
Em 1980, foram levantados debates a respeito das funções das creches para a sociedade moderna que teve início com os movimentos populares dos anos 70. A partir desses debates, as creches passaram a ser pensadas e reivindicadas como um lugar de educação e cuidados coletivos das crianças de zero a seis anos. Dessa forma, educar deixou de ser apenas cuidar, assistir e higienizar.
Com essa abertura política, permitiu-se o reconhecimento social desses direitos manifestados, e, dessa forma, a Constituição de 1988, pela primeira vez no Brasil, definiu como direito das crianças de zero a seis anos de idade e o dever do estado, o atendimento em creche e pré-escola. Surge, então, a institucionalização da educação infantil no sistema educacional brasileiro, sendo também regulamentada pela Lei Federal 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, através de seu artigo 29 ao afirmar que: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.

2 A CRIANÇA, O CUIDAR E O EDUCAR

2.1 A Criança

A concepção de criança é uma noção historicamente construída e, conseqüentemente, vem mudando ao longo dos tempos. A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também, o marca.
No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais.

2.2 O Cuidar

Contemplar o cuidado na esfera da instituição da educação infantil significa compreendê-lo como parte integrante da educação, embora possa exigir conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolem a dimensão pedagógica. Cuidar de uma criança, em um contexto educativo, demanda a integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades.
O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que, quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Cuidar da criança, é sobretudo, dar atenção a ela como pessoa que está num contínuo crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando e respondendo às suas necessidades. Isso inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de suas habilidades que, aos poucos, a tornarão mais independente e mais autônoma.

2.3 O Educar

Nas últimas décadas, os debates em nível nacional e internacional apontam para a necessidade e que as instituições de educação infantil incorporem, de maneira integrada, as funções de educar e cuidar. As novas funções para a educação infantil devem estar associadas a padrões de qualidade, ou seja, ter um desenvolvimento que considere as crianças nos seus contextos social, ambiental, cultural e, mais concretamente, nas interações
e práticas sociais.
Educar significa propiciar sistemáticas de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito, confiança e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Nesse processo, a educação precisa auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.

3 A Educação Infantil no Brasil: realidades

Ao refletirmos criticamente sobre a historicidade educacional da infância a partir do século XVII, bem como analisarmos as concepções em torno de infância, educar e cuidar, interrogamo-nos sobre como a educação infantil está inserida. hoje, no Brasil, no Estado e no Município de Erechim. Nesse intuito, objetivamos repensar a educação infantil global articulada com o local, a fim de que possamos elaborar nossas contribuições educacionais à infância brasileira, gaúcha e erechinense.
Assim sendo, nosso primeiro passo foi o de conhecer o número de escolas municipais, estaduais e particulares que oferecem educação infantil no Brasil, no Estado e no Município de Erechim (nosso foco de estudo), tanto no meio urbano como no meio rural. Para tanto, realizamos uma pesquisa no INEP, obtendo o seguinte resultado:
QUADRO DE MATRÍCULAS – II - EDUCAÇÃO INFANTIL

Número de matrículas na pré-escola por dependência administrativa, segundo Região Geográfica e Unidade da Federação
UNIDADE
DE
FEDERAÇÃO

MATRÍCULA NA PRÉ-ESCOLA

TOTAL
FEDERAL
ESTADUAL
MUNICIPAL
PRIVADO

BRASIL
4.977.847
1.751
302.354
3.402.309
1270953

SUL
597.808
211.408
84.069
368.509
146.890

RS
202.780
72
60.407
97.837
444.640

ERECHIM*
2.710
-
1.022
987
701

Fonte: MEC/INEP – Censo Escolar 2002 e 2004*
Analisando o quadro, tendo como referência o total de matrículas, percebemos que o Rio Grande do Sul, frente ao Brasil, apresenta um percentual de 4% do total das matrículas na pré-escola no país. Já perante à Região Sul, o percentual do estado é de 33%. Em relação ao Município de Erechim, temos: Erechim frente ao Brasil – 0,005%; Erechim frente a Região Sul – 0,045% e Erechim frente ao RS – 0,13 % (um percentual que consideramos baixo).
MATRÍCULAS - EDUCAÇÃO INFANTIL

Número de matrículas em creche e faixa etária, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação, em 27/03/02
UNIDADE
DA
FEDERAÇÃO

MATRÍCULAS EM CRECHE



TOTAL


TOTAL
DE 0 A 3 ANOS
DE 4 A 6 ANOS

BRASIL


1.152.511

712.301

425.737

SUL


213.105

142.184

67.427
RIO GRANDE
DO SUL





60.284



42.214

17.714

Fonte: MEC/INEP/SEEC

Quanto às matrículas em creches, o percentual do Rio Grande do Sul frente ao Brasil é de 5,2% e em relação à Região Sul o percentual é de 28%. De 0 a 3 anos, o RS representa 5,9% de matrículas no Brasil e, na Região Sul, representa 29% das matrículas.
De 3 a 6 anos, o percentual do Estado perante ao Brasil é de 4,1%, e, perante a Região Sul, é de 26% das matrículas em creches.

Educação Infantil - Número de matrículas por dependência administrativa

Total
Estadual
Federal
Municipal
Privada
2003
6393234
320463
2458
4281671
1788637
2004
6903737
292581
2358
46020981
1987817
2005
7204674
266378
2561
4886971
2048764

O quadro apresenta os dados sobre as matrículas na Educação Infantil no Brasil nos anos de 2003, 2004 e 2005. Percebemos que o aumento das matrículas de ano para ano não é tão elevado, porém, é significativo. Observando por dependência administrativa, notamos que as matrículas em nível estadual decresceram, contrapondo-se ao nível municipal e privado, que tiveram um aumento gradativo no ano de 2004 e 2005.
Escolas que oferecem mais de uma modalidade de ensino
Escolas
Particulares
Escolas
Estaduais
Escolas
Municipais
Escolas Rural Municipal
Escolas
Rural Estadual

11 escolas


19 escolas

02 escolas

01 escola

01 escola

Total de escolas que oferecem mais de uma modalidade: 34 escolas
Fonte: Inep - Cadastro das Escolas do Censo Escolar


Escolas que oferecem Educação Infantil


Escolas Estaduais

Escolas Municipais

Escolas Particulares


Zona Urbana

Zona Rural

Zona Urbana

Zona Rural

Zona Urbana


22 escolas


07 escolas

08 escolas sendo 03 creches

01 escola

15 escolas
Fonte: Inep - Cadastro das Escolas do Censo Escolar

Partindo do pressuposto de que, no município de Erechim/RS, existe um quadro de 56 escolas de educação infantil, destas 41 da rede pública para 15 da rede particular, surgiu a necessidade de conhecermos a realidade dos profissionais que atuam em educação infantil no município.
Nesse sentido, realizamos entrevista semi-estruturada com quarenta (40) professores das redes de ensino público e particular, tendo como enfoque o seguinte: a) o significado de infância e de educação infantil; b) qualificação profissional; c) práticas pedagógicas desenvolvidas.
Os resultados iniciais obtidos dizem respeito à qualificação profissional conforme gráfico abaixo:

LEGENDA:

PAI - Pedagogia Anos Iniciais PGA - Pós-graduação na área
PEI - Pedagogia Educação Infantil NS - Normal Superior
LPP - Licenciatura Plena em Pedagogia OQ - Qualificação em outra área
MG – Magistério

Percebemos, neste estudo, que, a maioria (13) dos professores entrevistados que atuam na educação infantil possuem apenas o magistério em nível de ensino médio. A Pedagogia Educação Infantil é representada por apenas 05 professores, sendo que os professores com outras qualificações, como por exemplo licenciatura em Matemática ou em História, são em número maior, ou seja, 07 professores. Professores com pós-graduação na área, dentre os 40 entrevistados, apenas 03 possuem, sendo que 02 deles já concluíram.
Sendo assim, é visível e inadmissível que ainda existam profissionais sem a devida qualificação atuando na educação infantil, etapa mais importante para a formação do homem, já que, a educação escolar infantil de zero a seis anos de idade é sem dúvida alguma o
alicerce de uma sociedade que se pretende justa, democrata e igualitária.
A partir do levantamento das escolas existentes no município, sentimos a necessidade de pesquisar sobre qual(ais) seriam os princípios filosóficos, pedagógicos, sociais que norteam a educação infantil no próprio município. Assim, fomos até os Projetos Políticos Pedagógicos das Escolas Estaduais junto a 15ª CRE e obtivemos os seguintes resultados(abordamos aqui apenas 3 das 10 escolas pesquisadas):[3]


Escola A
OBJETIVO DA EDUCAÇÃO INFANTIL – A educação infantil deve proporcionar à criança condições de em contato com o adulto e com o ambiente, construir o seu conhecimento, domínio dos movimentos do seu corpo, buscando autonomia, confiança, estabelecendo vínculo afetivo, relações sociais, explorando o ambiente com curiosidade, utilizando diferentes linguagens, ajustadas às diferentes intenções e situações, demonstrando interesse às diversidades culturais, oportunizando à criança formar uma personalidade sadia e feliz. A escola estabelece objetivos para cada área: física, afetiva, psicomotora, cognitiva e lingüística. As atividades e situações propostas têm o objetivo de favorecer a exploração, a descoberta e a construção de noções, ou seja, o desenvolvimento e o maior conhecimento do mundo físico e social (da língua, da matemática, das ciências naturais e sociais), eixos básicos da função pedagógica da pré-escola.
PROPOSTA PEDAGÓGICA – A escola não cita especificamente a educação infantil, estabelece proposta igual de pré a 4ª série.
AVALIAÇÃO - É feita a partir de observação e parecer descritivo.

Escola B
OBJETIVO DA EDUCAÇÃO INFANTIL – Favorecer e incentivar o desenvolvimento das potencialidades físicas, sócio-afetivas e intelectuais da criança, oferecendo oportunidades para a manifestação da autonomia do senso-crítico, criatividade e para que se efetivem as expectativas próprias de sua faixa etária.
PROPOSTA PEDAGÓGICA – Tem como princípios a socialização, o desenvolvimento do pensamento criativo, a autonomia de construir, respeitando o seu espaço e do outro, desenvolver o senso- crítico mediante oportunidades de expressar suas próprias idéias, o desenvolvimento das potencialidades físicas, bem como edificar uma relação de auto-confiança. A ação pedagógica fundamenta-se em uma atuação coerente, reflexiva e avaliativa que vem ao encontro da realidade social, econômica e cultural de nossas crianças. Trabalhamos a formação de hábitos, atitudes e comportamentos desde o início das atividades.
As atividades e conteúdos serão desenvolvidos, proporcionando ao aluno momentos de diálogo, troca de experiências e vivências de conversa com os educandos. Dar oportunidade aos jogos de escrita, ao faz de conta e à leitura, explorar situações cotidianas. Uma das principais possibilidades de aprendizagem está na observação e exploração do meio. O professor deve, a partir das perguntas interessantes, considerar os conhecimentos das crianças sobre o assunto a ser trabalhado, utilizar diferentes estratégias de busca de informações.
A escola trabalha a partir dos princípios da educação libertadora.
AVALIAÇÃO – Predomina os aspectos qualitativos sobre os quantitativos.

Escola C
A escola não cita objetivo, proposta pedagógica e avaliação, destacando a educação infantil.

Considerações Preliminares


A educação das crianças é a tarefa mais importante de nossa vida. Nossos filhos são os futuros cidadãos do país e do mundo. Eles serão os forjadores da história. São os futuros pais e mães e, ainda mais, serão os educadores de seus filhos. Devemos empenhar-nos para que se transformem em excelentes cidadãos, em bons pais. Eles representam também a esperança de nossa velhice. Uma educação correta nos propiciará uma velhice feliz, enquanto que uma educação deficiente será para nós uma fonte de amarguras e de lágrimas além de nos tornar culpados diante de todo o país. (MAKARENKO, 1981, p.17)

Levando em consideração as idéias em relação à educação infantil explicitadas, percebemos que, durante muito tempo, a infância foi submetida ao acaso, não tinha importância e não era estudada. Quando foi “assumida pelo sistema” a educação infantil era centralizada apenas na perspectiva de cuidar. As creches para os filhos de trabalhadores davam ênfase ao lazer e à saúde.
Até a implantação da Nova LDB, as escolas e instituições que atuavam na educação infantil, trabalhavam sob a perspectiva predominante do cuidado e adotavam determinadas práticas. A partir daí, os professores encontram-se com dificuldades no que se refere ao ensinar e ao aprender em educação infantil, de quatro a seis anos. Esses profissionais se encontram numa situação de insegurança e incompreensão à inserção de práticas pedagógicas diferenciadas da tradicional, nas quais predominam enfoque psicologista, eximindo os aspectos intelectuais, culturais, econômicos, antropológicos do ser humano.
Se é na educação que a infância com práticas didático-pedagógicas diferenciadas pode ser refletida no seu processo de hominização, é nela que se deve investir. Tanto se fala na educação infantil e tanto descaso há em relação a ela.
Uma prática pedagógica condizente com os objetivos traçados à educação infantil, visando ao desenvolvimento integral da criança, com certeza, contribuirá muito para o crescimento dessa criança ao longo de sua vida escolar.
Nesse sentido, torna-se essencial que o professor de educação infantil seja qualificado profissionalmente para o trabalho e que adote uma prática pedagógica que corresponda aos objetivos de uma educação infantil, ou seja, uma prática que envolva o cuidar, mas, também, que dê valor ao educar, que trabalhe de forma lúdica visando à formação integral da criança, assim como afirma a LDB, que reúna a afetividade, a ludicidade, o dinamismo, a flexibilidade e outros tantos fatores que são fundamentais para que ocorra um aprendizado significativo e prazeroso. Isso quer dizer uma educação infantil que promova o ser humano para uma sociedade justa, democrata e igualitária.
Cabe, portanto, aos professores, alicerçarem-se em pressupostos teóricos que lhes permitam adquirir referenciais que subsidiem-lhes na construção do seu fazer pedagógico. A experiência vivida leva a inferir que tanto os professores da rede pública quanto os da rede privada enfrentam dificuldades semelhantes no seu fazer diário e convivem com as mesmas inseguranças quanto ao uso dos referenciais teóricos.
As escolas precisam dar maior importância à educação infantil, os professores precisam estar preparados para o trabalho, ter uma formação de qualidade, para que, assim, possam constituir conscientemente suas opções teórico-práticas, participando ativamente de um processo histórico social e, assim, conhecendo o seu objeto de trabalho – A INFÂNCIA.

Referências

ARIÈS, Phillipe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1978.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 2003.

GHIRALDELLI, Paulo Jr. A história da educação. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1992.

MAKARENKO, Anton. Conferências sobre a educação infantil. Trad. VIZOTTO, Maria A. São Paulo:Moraes, 1981.

SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: LDB, trajetória, limites e perspectivas. Campinas/SP: Autores Associados, 1998.

SOUZA, Ana Maria Costa de. Educação Infantil: uma proposta de gestão municipal. Campinas/SP: Papirus, 1996.

VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente.4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
[1]Pedagoga, Orientadora Educacional, Mestre em Educação, Professora do Curso de Pedagogia e Pós-Graduação da URI/Campus de Erechim – RS.
[2]Acadêmica do V Semestre do Curso de Pedagogia: Habilitação Educação Infantil, Formação Docente, Gestão Educacional, Bolsista do Programa PIIC/URI.
[3]Para preservar a identidade das Escolas estudadas, estaremos denominando-as através de letras do alfabeto tal como:A,B,C, etc. Porém nesse momento , apenas pretendemos ilustrar a educação infantil, seus propósitos, metas e metodologias.

Um comentário:

  1. A educação infantil é primordial para o exercício consciente da cidadania.

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